Quando me perguntam o que faço,
digo: Sou fotógrafo! Alguns dizem: “então você é um artista!” Não! Sou
fotógrafo! Na verdade talvez nem fotógrafo seja ainda. A fotografia é “meu
ganha pão,”, ou seja, pratico a fotografia como profissão, e nessa perspectiva
sou fotógrafo. Mas afinal fotografia é arte?
Esse debate nasceu quase que
simultâneo com o nascimento da fotografia se considerarmos que a fotografia apareceu
para o mundo em 1839, com a foto “Vista
da Janela em Le Gras” tirada entre 1826-1827 pelo francês Joseph Nicèphore
Niépce, (Campany 2012) e que em 1857 houve a primeira exposição de fotografias
junto com outras artes na Exposição de Tesouros Artísticos de Manchester, mas em
1862, os organizadores da Exposição Internacional de Londres declararam que não
iriam exibir fotos junto com as demais artes e que estas seriam exibidas na seção
de equipamentos mecânicos (Campany 2012). Devido aos protestos dos fotógrafos
defensores da fotografia como arte as próximas exposições incluíram a fotografia
na seção “outros trabalhos” sem qualquer classificação.
Se em 1950 estúdios fotográficos
serviam de inspiração para pintores em 1880 os princípios pictóricos já eram
aplicados à fotografia por vários fotógrafos, como Henry Peacch Robinson que
escreveu o influente livro Pictorial
effect in photography (Efeitos Pictóricos em fotografia, 1869) (Campany
2012). E esse casamento entre pintura e fotografia perdura até os dias de hoje.
Durante muito tempo houve vários
movimentos e organizações para libertar a fotografia de suas amarras
documentais e técnicas, a intenção era mostrar que a fotografia poderia ser
também e artística, contemplativa, criativa uma forma de arte independente. Em
1888 foi lançada as câmeras Kodak e a fotografia ganha força popular graças à
tecnologia das câmeras que fazia as foto “sozinhas”, “Você aperta o botão nós
fazemos o resto” era o slogan da Kodak. (Campany, 2012) Desde então a
fotografia só se popularizou devido as tecnologias cada vez mais completa que
exigem menos dos fotógrafos e aos preços mais acessíveis justificado por
lançamentos a todos instantes. A fotografia também se tornou um produto
capitalista, onde a alusão que a máquina é que faz o fotógrafo.
Se a fotografia analógica que
exigia técnica e conhecimento já era contestada como arte e agora com o advento
do digital onde é possível fazer dezenas de disparos para se escolher uma,
quando as máquinas são capazes de fazer vários disparos sem tirar o dedo do
disparador e a fotografia é um arquivo digital podendo ser facilmente
manipulada e ajustada tecnicamente, como exemplo o modo Raw, presente na maioria das câmeras digitais, que traduzido quer
dizer “cru”, ou seja, você registra a cena, depois a ajusta num programa de
computador conforme sua preferência ou sua necessidade. Um arquivo digital
poderia ser considerado arte?
Antes de uma “rotulagem” temos
que fazer algumas considerações; Talvez à primeira seja que uma maquina
fotográfica é um equipamento mecânico, que envolve química e física. Uma foto é
feita pela máquina ou pelo fotógrafo? De qualquer forma há a participação dos
dois, mesmo que a câmera fotográfica faça a foto sozinha ainda sim foi o homem
e sua ciência que a produziu. Uma máquina fotográfica faz registros de luz, ou
melhor, de reflexos de objetos, de coisas, de um motivo... O que vai mudar
então é a forma de quem faz esse registro, do equipamento que este está usando
e do conhecimento prático e tecnológico que o fotógrafo tem de sua câmera e do
ambiente.
O fotógrafo Americano Paul Strand
(1890-1976) observou que a fotografia é única contribuição importante da
ciência para as artes. (Marigo 2010 cit Strand). Será mesmo? E o pincel do
pintor e ponteiro do escultor, não são produtos industriais? Não há uma relação
entre a qualidade destes para o sucesso do produto final? Não podemos afirmar
que a fotografia é ou não arte, porque usa de uma ferramenta tecnológica ou
mecânica. Se Michelangelo retira do bloco de mármore o desnecessário, o
fotógrafo coloca no seu “quadro” somente o necessário, cada qual com suas
ferramentas.
Podemos dizer que arte é
contemplativa e a fotografia pode ser tanto contemplativa como informativa e
que a arte é um processo de criação que vem puramente da mente do artista e que
a fotografia é pré-estabelecida, ou seja, a fotografia só existe a partir do
registro de um “motivo”. Sendo assim fotografia não é arte, embora o fotógrafo
possa passar seu ponto de vista, sua sensibilidade e sua cultura entre muitas
outras subjetividades. A fotografia seria então um universo paralelo entre
ciência, tecnologia e arte?
Para Cartier-Bresson essa
discussão é puramente acadêmica, concordo tudo o que o fotógrafo quer é fazer é
seus registros da melhor forma possível, independente, de qual é seu foco, e sua
maior preocupação é o tempo, ou melhor, o registro do instante. Outras
preocupações como luz, enquadramento, composição são meramente técnicas e
atendem a demandas. Qual será a finalidade deste registro?
O fotógrafo vive de escolhas,
tanto do equipamento que usa, como das configurações deste equipamento antes do
registro, como o ISO, a velocidade, a abertura, etc. E por fim, o
enquadramento, qual será sua posição e a posição da câmera em ralação ao
motivo? Qual será o momento do disparo? Tudo é uma questão de escolha, e vemos
o que o fotógrafo quis nos mostrar. Mas isso não é uma arte? Ver através dos
olhos de outro?
O que podemos afirmar é que a fotografia registra a realidade, o tempo, os fatos e tudo mais que se possa ver e que reflete luz, mas quando analisamos profundamente uma foto vemos que nada disso é puramente verdade; a realidade é subjetiva, por isso não há como registrar. Nesse caso o contrário também é verdade, são possíveis vários registros de uma mesma realidade. Como afirma Marigo, a realidade é tridimensional e a fotografia é plana. Seria possível registrar o tempo num milésimo de segundo? Caberia um fato num sensor 36x24mm? Mas por outro lado a “boa fotografia” é aquela que retrata um tempo numa fração de segundo e mostra um grande cenário em poucos milímetros, isso é uma arte, uma habilidade prática da interpretação e da intervenção.
Não é minha intenção provar ou
questionar nada, a intenção é mostrar o quão grande e complexo é o universo da
fotografia, minha intenção é fotografar e que se possível da melhor forma
possível, minha intenção é deixar uma escrita e a fotografia foi umas das
formas que encontrei para fazê-lo, quanto à arte, me considero leigo ao tema, e
quanto ao fotógrafo estou na busca.
Referências
MARIGO, Luiz Claudio. Fotografia de Natureza – Teoria e Prática / FOTOGRAFE. São Paulo:
Editora Europa, 2013. (nº198, PÁG. 203)
CAMPANY, Davi / HACKING, Juliet. Tudo Sobre Fotografia. Rio de Janeiro:
Editora Sextante, 2012.
HEDGECOE, John. O novo manual de fotografia. São Paulo: SENAC São Paulo, 2013.
Nem tudo que a fotografia mostra é visível aos olhos e para tanto requer tecnologia e técnica do fotógrafo. |
Nem toda imagem requer uma obrigação técnica ou estética. |
Cores, formas e contrastes são elementos presentes em pinturas, na fotografia também é possível e recomendável explorar esse recurso. |
Algumas técnicas de enquadramento são usadas tanto por pintores como por fotógrafos para dar equilíbrio e dinâmica à imagem. |
Fotografar pode ser brincar com a imaginação e nosso sentidos. |
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