terça-feira, 28 de outubro de 2014

Luz




Nesse quarto escuro onde toda luz é inversa há sempre um olhar de quem denuncia o instante, com letras de luz com palavras genéricas de interpretações díspares.
Toda luz é uma verdade, toda escuridão busca uma luz, tudo o que seduz é luz, mas nem toda luz é sol nem toda noite é escuridão. Pois na alegria e na dor o que vai importar é o instante e a sua cor, no evento da vida o que vai valer são meros segundos e entre a ciência e arte o mais admirável é o que não se sabe.
E o olhar se faz caçador e a caça se eterniza pelo reflexo do seu brilho e o caçador se faz presa na busca constante pelo único. A busca é sempre solitária as recompensas sempre se revelam quando menos se espera, quando os colores ainda se mostram.
Entre sorrisos infiéis e espontâneos, entre verdades e fatos existirá sempre uma janela que não se enquadra nas linhas do visível_ nem sempre o visível é o que vemos, nem sempre o que vemos é visível.
Assim toda noite é noite de luar, em algum lugar, todo dia o sol brilha a aqueles que querem enxergar e aos poetas que desejam pintar, embora nem toda pintura se faça com pincéis, embora nem toda poesia seja construída por palavras e embora nem toda arte seja física.


Preciosidades Naturais de Caldas.


     
Pedra Branca

       A cidade de Caldas é uma pacata e típica cidade do Sul de Minas daquelas que você chega e tem a certeza que está em Minas, na dúvida basta olhar as montanhas ao redor, conversar com seu povo hospitaleiro e sentir seu clima ameno, típico das montanhas. O município de Caldas está localizado na região do Planalto de Poços de Caldas, a qual está situada no limite nordeste da bacia sedimentar do Paraná com os terrenos pré-cambianos do complexo cristalino brasileiro, na borda ocidental da Mantiqueira. O município possui aproximadamente 13.630 habitantes e sua atividade econômica principal é a agropecuária e a mineração de rochas ornamentais.

     O município de Caldas está sob o domínio fitogeográfico do Bioma Mata Atlântica, sendo constituído por um mosaico de fitofisionomias, com a ocorrência de Floresta Estacional Semidecidual, Floresta Ombrófila Mista e Campos de Altitude (savana gramíneo-lenhosa), portanto, grande parte do município apresenta áreas de tensão ecológica.

Toda essa riqueza e singularidade florística, não podia passar despercebida e o primeiro a notá-la foi o médico botânico Anders FredicK Regnell,   que viveu em Caldas de 1840 à 1884, data de sua morte.

Regnell nasceu em 1807 na cidade de Estocolmo. Aos 17 anos, prestou exames para cursar medicina e matriculou-se na Universidade de Uppsala, onde se interessou pela botânica, graduando-se em 1837. Sofrendo de problemas cardíacos em consequência de um mal dos pulmões, em 1840 transferiu-se para o Brasil. Aqui chegando prestou exames na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, habilitando-se a exercer a medicina neste país. Fixou residência na cidade de Caldas, onde já residia Lourenço Westin, conterrâneo e ex-consul da Suécia no Brasil. (Trecho tirado do site: http://jardimbotanico.pocosdecaldas.mg.gov.br/node/288)

No entanto, não foi somente a presença do seu conterrâneo que atraiu o naturalista á Caldas, Regnell acreditava que o ar fresco e puro das montanhas seria a cura para seus males pulmonares.Quando chegou encontrou mais do que ar puro, encontrou também uma diversidade muito grande de plantas notáveis, o que vez com que se fixasse definitivamente na região. 

Exercendo a profissão de médico paralelamente coletava plantas e enviava para o Jardim Botânico do Rio de Janeiro e para o Museu Botânico da Universidade de Uppsala e à Academia Real de Ciência de Estocolmo, em seu país natal partes de suas coleções foram enviadas a Carl Friedrich Philip Von Martius, que as incluiu na “Flora Brasiliensis”. ( MATAVELLI, 2012 apud Quezada).
Túmulo de Regnell no cemitério de Caldas
Anders Fredrik Regnell.
Reserva Biológica da Pedra Branca. 

  
    Embora todo o planalto seja de grande relevância ambiental há um lugar em especial que é a Serra da Pedra Branca localizada a Sudoeste da cidade, onde está localizada a Pedra Branca, que é hoje uma Reserva Biológica, unidade de conservação de proteção integral com grande potencial conservacionista, justamente devido ao grande endemismo e pela presença de plantas raríssimas e outras riquezas naturais.  “A Serra da Pedra Branca merece um grau especial de proteção em função de sua beleza cênica, da importância simbólica na região e de relevância ambiental em função da quantidade de endemismo da fauna e da flora, da ameaça de extinção de alguns grupos, como os bugios que ainda povoam as pequenas matas restantes e por importância nos serviços ambientais. (CONFORTI apud TORRES, IBAMA, 2004).”

Contudo a realidade é bem diferente do que deveria ser, pois mesmo a Pedra e seu entorno estando dentro de uma Reserva Biológica que está dentro de uma APA (Área de Proteção Ambiental) no entorno de outra unidade de Conservação; A Reserva Biológica Municipal da Pedra do Coração, ainda sim sofre pela devastação do gado, do turismo desordenado e por mineradoras de granito. (com certeza Regnell está revirando em seu túmulo)

Tudo isso poderia ser sanado e equalizado se houvesse nas Unidades de Conservação o Plano de Manejo, Instrumento legal que nortearia o uso sustentável tanto da UC, como de toda área a seu redor onde está inserida grande parte das mineradoras e sitiantes.
    A falta do Plano de Manejo não só da brecha para devastação local como também suscita grandes inconvenientes, pois se de um lado os conservacionistas alegam que a área está dentro de unidades de conservação e de maneira nenhuma deveria ser tocada, por outro lado, as mineradoras desconhecem a existência das unidades, pois afirmam que nem mesmo as demarcações estão bem definidas, não existe Plano de Manejo e há turismo dentro da Unidade onde o uso na pratica deveria ser restrito apenas á pesquisadores. De fato nenhuma das unidades encontra-se no SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação). 

      Na flora do município de Caldas ocorrem 14 espécies ameaçadas segundo a lista vermelha 2013, sendo:
Dicksonia sellowiana Hook., Doryopteris crenulans, Phlegmariurus regnellii (Maxon) B.Øllg., Phlegmariurus christii (Silveira)  B.Øllg. (Øllgaard, 2012), Campyloneurum vulpinum, Cheilanthes regnelliana Mett, Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze, Ocotea odorifera (Vell.) Rohwer, Hippeastrum psittacinum herb,  Rechsteineria striata (Fritsch) Fritsch Corytholoma striatum Fritsch, Cedrela fissilis Vell, Rudgea jasminoides subsp. nervosa Zappi & Anunc, Pouteria pachycalyx T.D.Penn. Handroanthus albus (Cham.) Matos.

    A diversidade biológica e a concentração de espécies raras do local sempre atraíram a atenção de pesquisadores, dos quais podemos citar: Anders Fredrik Regnell (1807-1884), Johan Fredrik Widgren (1810-1883), Gustaf Anders Lindberg (1832-1900), João Barbosa Rodrigues (1842-1909), Salomon Eberhard Henschen (1847-1930), Carl Wilhelm Hjalmar Mosén (1841-1887), Albert Löfgren (1854-1918) e Carlos Frederico Hoehne (1882-1959).
Hoje em meio aos interesses econômicos exercido pelas mineradoras de granito e pela a pressão ao turismo ainda desordenado, dois pesquisadores tentam conhecer melhor e divulgar estas preciosidades ambientais ao mundo acadêmico e para a população de modo geral, a fim de conscientizar e alertar a todos que a Pedra Branca é um lugar único no mundo. Estes pesquisadores estão ligados a Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas, onde desenvolvem diversos trabalhos de pesquisas, seguindo os passos de Regnell, pioneiro em pesquisas na região, um dos mais importantes botânicos que já viveram no país (Ver mais no site da Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas.

    Um destes pesquisadores é o Biólogo Eric Williams especialista em aves e pteridófitas, redescobriu uma espécie de samambaias que tinha como ultima descrição há 140 anos por Regnell (1807-1884), a Phlegmariurus regnellii (Maxon) B.Øllg, Williams inclusive está fazendo seu mestrado tendo como tema a preservação da espécie, que apenas 14 indivíduos no mundo. O Engenheiro Agrônomo João P. Braga é outro pesquisador que também está fazendo seu mestrado pautado nas riquezas naturais da região, o mestrado de Braga consiste na reintrodução de espécies rupestres que foram criminosamente extraídas de uma das florações rochosa dentro da UC por uma mineradora.
           
    Não menos importantes, arraigados a luta de preservação existem vários outros atores sociais, como Daniel Tygel, que dirige uma ONG e é um dos grandes interlocutores da preservação local, Tygel tem como uma das metas a produção justa oferecendo aos moradores uma oportunidade de renda sustentável com produções de produtos orgânicos, valorando a terra e o trabalho dos moradores.


  Também estou enraizado nessa luta como Técnico em Meio Ambiente e Fotógrafo Ederson Godoy, além de documentar a biodiversidade do local também desenvolvo junto ao Jardim Botânico de Poços trabalhos com sementes de espécies ameaçadas de extinção encontradas dentro da APA (Área de Preservação Ambiental da Pedra Branca) que é outra unidade de preservação do município de Caldas, mas sempre com foco principal da Reserva Biológica.

Texto Ederson Godoy e Eric Williams. 

Alstroemeria variegata

Mandevilla illustris

Mandevilla venulosa

Periandra mediterranea

Handroanthus Albus
Sinningia striata

Choca-da-mata (Thamnophilus caerulescen)  ave ameaçada de extinção que ocorre no local. 
gibão-de-couro (Hirundinea ferreginea)

Lagartixa comum nas aflorações rochosas da Pedra Branca

Bugio (Bugio alouatta)

Bacurau (Hydropsalis longirostris

Maria-preta-rupestre (Knipolegus nigerrimus)
sanhaço-frade (Stephanophorus diadematus)


Levantamento da Flora regional 

Pesquisadores da Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas. 
O gado faz parte da paisagem da região.
vista parcial do Alto da Pedra Branca.
Marcas de acampamento ilegal. 
desmatamento ilegal. 
Mineradoras de granito na Serra da Pedra Branca



quarta-feira, 15 de outubro de 2014

A função do propósito

Conhecer o mundo
Sem conhecer a si mesmo;
Conhecer as palavras
Sem conhecer o significado do amor.

No cerne da ciência só há mérito para a função.
No cume da tecnologia não há mérito para a função.
A função da ciência não é somente identificar.
A função da tecnologia  é somente funcionar.

A função do homem não é o altar.
A função da ciência não pode ser somente o homem.
A função da função é apenas laborar.
O propósito de tudo é somente uma semente.


O O amor é um propósito do conhecimento.
O dever é inerente do nosso ser.
Conhecer não é um dever.
Conhecer e não cuidar é um constrangimento.

O propósito das palavras não é apenas rimar.
As palavras tem um propósito de humanizar.
Humaniza-se os propósitos;
A propósito, o que é humanizar?
O porque do pensar?
O que pensar?





sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Um novo capítulo sobre o crime ambiental cometido em Caldas

           Ocorreu ontem dia 09 de outubro de 2014, mais um capítulo do crime ambiental cometido pela empresa mineradora de “Fernando Da Paz”, onde foi suprima ilegalmente a vegetação nativa, em especial espécies ameaçadas de extinção como o Handroanthus Albus e a endêmica  Alstroemeria variegata entre milhares de orquídeas e bromélias.

                Neste novo capítulo, voluntários da Cidade de Caldas, moradores do Bairro Bom retiro e parte da equipe da Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas fizeram o resgate das orquídeas e bromélias suprimidas das aflorações rochosas da área onde se pretende obter a frente de lavra para extração de granito.

                Se não bastasse os absurdos da degradação cometidos pela empresa ainda houve uma tentativa de inibir o trabalho dos voluntários, fechando as porteiras de acesso e proibindo a entrada de mais voluntários e da imprensa que queria mostrar o trabalho de formiguinha dos virtuosos, que tiveram que encarar de baixo de um sol escaldante subidas íngremes, espinhos e muito peso para carregar as plantas até o caminhão que fazia o resgate.

                Mesmo com as dificuldades do trabalho exaustivo e estressante instigado pela  falta de colaboração da empresa, que não cedeu nem mesmo água aos voluntários a primeira parte da missão foi concluída. Lembrando que o trabalho ainda não terminou, pois foi retirado do local apenas um caminhão de plantas, de onde se espera que saía pelo menos mais três.  Isso só de bromélias e orquídeas.  

                Todo o material coletado foi levado para a FJBPC, onde será feito triagem e reintrodução na natureza. 







Foto (Daniela Vieira)









Foto (Daniela Vieira)






Voluntários que ajudaram no resgate.