O tangará é uma das
mais belas entre as aves brasileiras e que também proporcionam um dos mais
belos espetáculos no seu ritual de acasalamento, também conhecida como
tangará-da-serra e tangará-dançarino, este ultimo justamente devido a seu
hábito de dançar para a fêmea em época de acasalamento. O tangará é da família
dos pipridae, aves pequeninas, gorduchinhas, coloridas e que apresentam cortejo
de acasalamento sendo o mais conhecido a do tangará (Chiroxiphia caudada), que chamou atenção dos primeiros naturalistas
que chegaram ao Brasil como de Cardim em 1853 (Sick 91), um dos primeiro a
descrever essa elaborada dança. Porém nem todos os cortejos são tão elaborados,
somente o tangará-falso (Chiroxiphia
pareola) apresenta um ritual de dança tão complexo, as outras espécies
fazem exibições a fêmea.
Fêmea adulta |
O ritual de dança dos tangarás envolve vários machos, que
encontram ‘leks” ou “arenas” e ali constituem por anos um palco de exibição,
nesse palco é escolhido um galho onde vários manchos de posicionam um do lado
do outro, quando a fêmea se faz presente começam a pular e fazer exibições
sonoras, seguindo criteriosamente uma ordem, no qual o primeiro pula no fim da
fila e o último pula para frente e assim conseguentemente, assim fazem
acelerando o ritmo até o macho alfa finalizar o cortejo batendo as asas
rapidamente e fazendo uma exibição sonora estridente. Esse ritual gira em torno
de 1 minuto e pode ocorrer várias vezes ao dia.
Macho adulto exibindo-se |
O mais interessante dessa exibição que não é uma disputa
que vai determinar qual o macho que vai acasalar com a fêmea e sim uma exibição
de cooperação no qual os outros machos corroboram com o alfa para que este
possa acasalar com a fêmea. Daí fica a pergunta por que os outros machos iriam
colaborar, se estes não têm chance de acasalar? Simplesmente, porque naquele
“lek” haverá um substituto que herdará o direito de acasalar, fato que já foi
demostrando com a rendeira (Manacus
manacus), neste exemplo foram 11 anos de espera para que um indivíduo se
tornasse o macho dominante (Sick 91).
Dança de acasalamento |
Essa espécie é polígama, no qual a fêmea pode visitar e
acasalar com vários machos diferentes, mas nunca dentro do palco, o que nunca
foi registrado, conseguentemente cabe a fêmea criar seu filhotes, normalmente
dois. O ninho é construído próximo a cursos a água, no qual a fêmea delimita
seu território, assim pode haver confronto entre fêmeas, nesses confrontos elas
vocalizam e exibem pequenos saltos, muito parecido com parte da exibição dos
machos, caso não haja desistência de nenhuma das partes pode haver o embate
físico, situação que presenciei na serra de São Domingos, Poços de Caldas.
Plumagem do macho juvenil |
Os
filhotes são verde oliva a mesma cor da mãe, diferenciando pelo topo da cabeça
vermelha, o interessante é que na falta de uma fêmea os machos dançam para os
juvenis, possivelmente para treinarem e para ensinarem a eles, e mesmo entre
filhotes pode haver pequenas demonstrações.
O tangará é uma ave florestal por isso ainda é desconhecida,
porém tem boa distribuição no território nacional, habita as matas densas do
sul da Bahia, do sudeste e sul do Brasil, também o Paraguai e nordeste da
Argentina onde exercem um importante
papel de preservação e manutenção das florestas, não é difícil vê-la
dispersando sementes pela regurgitação assim como não é difícil ouvi-la, porém
mesmo colorida consegue passar despercebida aos olhos se escondendo entre a
vegetação densa, mas é uma ave que responde bem ao play back, assim é mais
fácil contemplar toda sua beleza.
Fêmeas brigando por território
Fêmeas brigando por território |
Acima o vídeo da chamada do Programa do terra da Gente que exibiu todos os detalhes desta bela corte e abaixo o link do programa na íntegra
Referências:
Roman, C., Della-Flora,
F., Broudt, M. S., Caceres, N.C, DIFERENÇA DE COMPORTAMENTO DE CHIROXIPHIA
CAUDATA (AVES, PIPRIDAE) EM DIFERENTES ESTRATOS FLORESTAIS NO SUL DO BRASIL, 28
de Set de 2007. Disponível em: http://www.seb-ecologia.org.br/viiiceb/pdf/1943.pdf.
Acesso em 03 fev. 2009.
http://www.wikiaves.com.br/tangara
SICK, H,. Ornitologia
Brasileira, pág 636 a 671, Rio de Janeiro, RJ, 2001.
Seu nome científico
significa: do (grego) kheir = mão; e xiphos, xiphidion = espada, punhal; e do
(latim) caudata = com cauda, (longa/curta). ⇒ Asa
de sabre com cauda longa.